Monday, August 14, 2006

DEPOIS DA TRAVESSIA

Tempos difíceis esses, de expansão de memórias virtuais e de extinção de ambientes que circunscrevem experiências pessoais e coletivas ditas tradicionais. Nesse sentido, talvez fosse o caso de se pedir um greenpeace que empreendesse, contra o conforto de nossas consciências satisfeitas, a luta pelo reconhecimento e pela preservação desse habitat da formação de professores que são as Faculdades de Filosofia.

Situadas entre as grandes instituições públicas e a iniciativa privada, no campo do ensino superior, as Faculdades de Filosofia se espalham às dezenas pelos municípios deste continente Brasil. Suas raízes mergulham nas expectativas comunitárias que demandaram, a partir da segunda metade do século passado, o conhecimento acadêmico sistematizado, sobretudo para formar os mestres indispensáveis à escola, ao polimento de sociabilidades e à reafirmação de suas particularidades históricas e culturais. Configuram, por isso mesmo, essa espécie de Universidade Local no âmbito da história da educação brasileira.

Com a Faculdade de Filosofia de Campos não haveria de ser diferente. Fundada no alvorecer da década de 1960, vê aproximar-se rapidamente o momento de suas áureas bodas com a comunidade campista e norte-fluminense. Maria Thereza da Silva Venancio – sua principal cronista – foi então sua primeira Diretora, conduzindo com inteligência, dedicação e virtude a travessia difícil daqueles dez primeiros anos. Daí a ansiedade verdadeira com que este Livro vem sendo esperado...

Durante a travessia é seu título, um misto de história e memória afetiva da instituição. Se fôssemos como o Yambo da ficção de Umberto Eco, que um acidente fez perder a memória autobiográfica, mantida, no entanto, a memória automática (além daquela semântica ou coletiva) Maria Thereza Venâncio nos ajudaria a reconstruir pedagogicamente, pelas mãos, o nexo entre o que somos e o que fomos, resgatando a integridade plena de nossas dimensões pessoais, coletivas e históricas.

Finalmente, quem acompanhou de curta distância esses tempos mais recentes do percurso intelectual e existencial de Maria Thereza Venâncio, no vai-e-vem entre suas aulas de espanhol na FAFIC e as pesquisas que resultaram na preparação deste Livro, certamente repetiria com o personagem de Eco a verdade intensa e óbvia, porém quase sempre oculta, segundo a qual “recordar é um trabalho, não um luxo”!

Parabéns, Profª Maria Thereza! Mas, sobretudo, parabéns aos que, ontem como hoje, compartilham desse imenso trabalho – destinado ao futuro – de recordar a FAFIC!

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Maravilhoso! Estou só no começo, lendo a prestações. E amando muito...(tenho trocado muitas fraldas, sabe?) Até minha próxima folga!Um beijo com carinho.

6:55 AM  

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