POESIA EM TEMPOS DE INDIGÊNCIA
Disse certa vez o poeta que o preço do feijão não cabe na poesia. Na poesia cabe somente o homem sem estômago, a mulher de nuvens, a fruta sem preço. Antes, porém, a poesia havia contemplado o universo da cova com palmos medida e do latifúndio. Entre um mundo caduco e o mundo futuro, o poeta na permanência elege sua matéria: o tempo presente, os homens presentes, a vida presente.
Contra uma poesia indigente, os últimos poetas forçaram a porta e fizeram caber a indigência na poesia. Indigência aqui é indignidade e poesia indigente é uma poesia alheia às causas da própria indignidade. Sem qualquer poesia, os jornais anunciam o assassinato, numa emboscada, de agentes do ministério público que investigavam o trabalho escravo. Anunciam também que mais de um milhão de jovens irão disputar empregos escassos no próximo ano.
Os tempos parecem, de fato, avessos aos poetas e à poesia. E não só pela urgência da exclusão e da pobreza. Instantâneos, fazem crer que o passado acabou; o futuro foi rastreado e encontra-se enfim codificado num chip de cartão de crédito! Toleram, talvez, uma poesia de ocasião, aqui; um poema cromado de exposição, ali; outra anti-lírica pós-moderna, mais além. Afugentam o porquinho-da-índia dos seis anos, primeira namorada de Manuel.
São ambos, porém, um mesmo tempo: o da exclusão e o do silício! Como também aquele tempo dos poetas que acolheram generosamente seu próprio tempo. E são muitos os tempos presentes naquele que flui. Compositor de destinos, tambor de todos os ritmos (tempo, tempo, tempo), há que se imaginar muitas saídas. Há que se reinterpretar o passado e inventar novos futuros. Multiplicar ainda mais as possibilidades do tempo.
Fazer como o poeta que, antes de perder a perna esquerda (e logo depois a própria vida), cuidou de construir uma nova Bastilha, esconder a fórmula da pólvora e arranjar outro czar para o trono. Tudo para que os filhos começassem bem a vida... A poesia – ela, sim! – recolhe e sublima o veneno da maçã num antídoto contra o fim da História.
Mas é preciso imaginação. É essencial descobrir que idéias plurais são como diferentes sentidos: absorvem e ao mesmo tempo constroem dimensões distintas da realidade. Perceber que o mundo não é só aqui, ou que além do horizonte deve ter... horizontes novos. Supor outras paisagens e cotidianos, lugares e tempos inusitados. Imaginar que um porquinho-da-índia pode ser capaz de afugentar a última das indigências.
A poesia é a imaginação! Por isso é essencial em tempos de indigência...
Contra uma poesia indigente, os últimos poetas forçaram a porta e fizeram caber a indigência na poesia. Indigência aqui é indignidade e poesia indigente é uma poesia alheia às causas da própria indignidade. Sem qualquer poesia, os jornais anunciam o assassinato, numa emboscada, de agentes do ministério público que investigavam o trabalho escravo. Anunciam também que mais de um milhão de jovens irão disputar empregos escassos no próximo ano.
Os tempos parecem, de fato, avessos aos poetas e à poesia. E não só pela urgência da exclusão e da pobreza. Instantâneos, fazem crer que o passado acabou; o futuro foi rastreado e encontra-se enfim codificado num chip de cartão de crédito! Toleram, talvez, uma poesia de ocasião, aqui; um poema cromado de exposição, ali; outra anti-lírica pós-moderna, mais além. Afugentam o porquinho-da-índia dos seis anos, primeira namorada de Manuel.
São ambos, porém, um mesmo tempo: o da exclusão e o do silício! Como também aquele tempo dos poetas que acolheram generosamente seu próprio tempo. E são muitos os tempos presentes naquele que flui. Compositor de destinos, tambor de todos os ritmos (tempo, tempo, tempo), há que se imaginar muitas saídas. Há que se reinterpretar o passado e inventar novos futuros. Multiplicar ainda mais as possibilidades do tempo.
Fazer como o poeta que, antes de perder a perna esquerda (e logo depois a própria vida), cuidou de construir uma nova Bastilha, esconder a fórmula da pólvora e arranjar outro czar para o trono. Tudo para que os filhos começassem bem a vida... A poesia – ela, sim! – recolhe e sublima o veneno da maçã num antídoto contra o fim da História.
Mas é preciso imaginação. É essencial descobrir que idéias plurais são como diferentes sentidos: absorvem e ao mesmo tempo constroem dimensões distintas da realidade. Perceber que o mundo não é só aqui, ou que além do horizonte deve ter... horizontes novos. Supor outras paisagens e cotidianos, lugares e tempos inusitados. Imaginar que um porquinho-da-índia pode ser capaz de afugentar a última das indigências.
A poesia é a imaginação! Por isso é essencial em tempos de indigência...
2 Comments:
Precisava vir aqui dizer que sou sua fã, sua maior admiradora, sua macaca-de-auditório (eheh!), sua discípula, sua eterna aluna pra todas essas coisas que a gente precisa aprender na vida...o mais você já sabe! Falar sobre seus textos? Falarei durante toda a caminhada... Bjos. Cleir do Valle
Bem, primeiro quero dizer que é um enorme prazer ler você, ler Cleir.
Sou altamente entusiasmada com todas essas [novas] ferramentas que a Internet disponibiliza e que nos permitem compartilhar fotografias, pensamentos, sentimentos, poesia...
Admiro quem sabe "brincar" com as palavras e formar um texto lindo assim como esse. Eu tento, mas não consigo - pelo menos por enquanto.
:)
Bom "ver" você aqui também.
Beijos!!
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